Entrevista com Jorge Roberto Silveira

Tribuna de Petrópolis - 06/03/2011


A visão de um filho

"O Jango acho que ficou mais órfão do que eu", disse Jorge Roberto
Jorge Roberto Silveira, que pela quarta vez ocupa o cargo de prefeito em Niterói, seguiu a carreira política, assim como o pai Roberto Silveira. O ex-governador do Estado do Rio de Janeiro morreu em Petrópolis no dia 28 de fevereiro de 1961, oito dias após um acidente de helicóptero ocorrido depois de duas tentativas de alçar voo do Palácio Rio Negro.
Jorge Roberto tem duas irmãs, Maria Auxiliadora e Márcia, que tinham à época do acidente cinco e dois anos, respectivamente. A sua mãe, Ismélia Saad da Silveira, ainda é viva. Ele tinha oito anos e só guarda ótimas lembranças do pai. Como decidiu ser também político, teve que conviver com as comparações e disse: “É um peso enorme, mas ele deixou um ótimo exemplo”.

Leonni Pissurno - Quais são as lembranças daquele dia fatídico que lhe vem a cabeça quando pensa na morte de seu pai? Onde você estava?
Jorge Roberto Silveira – Eu estava no Palácio Itaboraí, onde passávamos o verão. Por falar nisso, como está o palácio agora? (pausa para explicar que o prédio, agora da Fiocruz, está em reformas e deve ser inaugurado em abril). Naquela época, helicóptero era uma coisa rara e utilizado muito esporadicamente, uso quase exclusivo das Forças Armadas. Para deslocamentos rápidos, o governador sempre pegava o helicóptero e eu sempre o acompanhava. Na véspera, ele mandou eu dormir cedo, pois teríamos viagem no outro dia. Lembro que ele despachava no gabinete, no térreo do palácio. Estava com a fisionomia muito fechada. Quando disse que estava pronto, ele falou: “Você não vai hoje”. Depois ele partiu e me recordo de ver muita correria no Itaboraí. Ele ficou oito dias no hospital, até que veio a falecer.

LP – Apesar do pouco tempo de convívio, quais as principais características do político e do pai Roberto Silveira?
JRS – Ele tinha um espírito crítico, mas o que mais me marcou foi o fato de ele ser um pai muito presente. Não tínhamos a facilidade de comunicação que temos hoje e, por ele ser político, isso sempre me chamou a atenção. Meu pai tinha muita vitalidade e a capacidade de estar presente, mesmo com muitas tarefas. Isso eu segui com o meu filho. Você tem que arranjar tempo e não deixar que a política te absorva. Ele era muito rigoroso, mas conversava muito comigo.

LP – Conte mais um pouco desse convívio em família...
JRS – Quando fomos morar no Palácio do Ingá, depois que ele tomou posse como governador, me deparei com um palácio enorme, magnífico. Saímos de um apartamento de três quartos, em Icaraí, e pra mim aquilo era realmente gigante. Eu não me segurei e me joguei em uma das enormes cortinas do palácio, como um Tarzan. Meu pai viu e me deu uma dura: “Você poderia ter arrebentado essa cortina”. E completou dizendo que aquela casa não era nossa, foi o povo que nos entregou e teremos que devolvê-la daqui a quatro anos, guardei essa declaração.

LP - Imagino que não deve ter sido fácil conviver com as comparações e expectativas quando o senhor resolveu seguir a carreira política também. Como foi essa situação?
JRS – Na verdade, comecei a seguir a carreira política quando ele morreu. Hoje em dia já não jogam essa responsabilidade sobre uma criança. Desde cedo, sabia que dificilmente não seguiria por esse caminho. Eu fui me preparando. Fiz uma campanha pequena, mas fui o mais votado do antigo Estado do Rio (sem a cidade do Rio de Janeiro) e o quarto no geral para deputado estadual em 1978.

LP – E em 2002, com a campanha para o governo do estado e tendo a possibilidade de igualar o feito do seu pai?
JRS – Em 2002, atingi o meu objetivo que era ser candidato a governador do Rio com condições de vitória. Fiz até a convenção que me apontou como candidato do partido aí em Petrópolis, no Quitandinha. Tive mais de um milhão de votos (ficou em terceiro na disputa, com 17% dos votos). Na prefeitura e em toda a minha carreira, fiz uma série de coisas que ele ficaria orgulhoso. Hoje já tenho 21 anos a mais do que a idade que ele tinha quando morreu (58, Roberto Silveira morreu com 37). Sempre vivi com a lembrança dele e por onde passo aqui em Niterói as pessoas vem me dizer algo dele ou até mostrar uma foto.

LP – É possível imaginar até onde o jovem governador teria avançado na política?
JRS – Segundo historiadores, talvez com ele o Golpe de 1964 teria demorado um pouco mais para acontecer. Isso porque ele tinha grande influência junto ao João Goulart e por ser também um nome forte do PTB, que era um dos grandes partidos da época. Acho que ele não deixaria as coisas tomarem aquele rumo. Eu mesmo tive uma conversa com o Juscelino Kubitschek e ele disse que meu pai era muito teimoso, mas era da vontade de JK incluí-lo na volta ao poder em 1965. É provável que meu pai fosse candidato a vice-presidente, já que Jango tinha ocupado o cargo nos dois últimos governos (JK e Jânio). Enfim, ele mesmo dizia que ia morrer cedo, pois tudo na sua vida foi cedo demais. Foi uma carreira ascendente e rápida.

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