Coreto da praça vira abrigo para moradores de rua

Tribuna de Pertrópolis - 05/07/2011- junto com Janaína do Carmo

O grupo revelou que foi parar no coreto para se abrigar da chuva. Com medo, eles evitaram falar sobre a vida, mas um deles confirmou não ser da cidade
O coreto da Praça da Liberdade virou abrigo para um grupo de moradores de rua. Três homens e uma mulher, entre 34 e 50 anos, estão no local desde o último fim de semana. Segundo eles, para escapar da chuva. “Aqui é bom. Ninguém incomoda”, relatou um deles.
Além de cobertores e papelões, o grupo levou para o local um carrinho de supermercado contendo os poucos pertences, entre eles panelas, roupas e comida. No coreto, os moradores também preparavam as refeições em um fogareiro improvisado. Ontem pela manhã, um deles fritava batatas para o café. “Tá faltando óleo, mas deu para fritar. É o que temos hoje para comer”, disse.
Os moradores não quiserem se identificar, revelaram apenas a idade e alguns fatos da difícil rotina de viver nas ruas. A única mulher do grupo, de 43 anos, contou que vive nas ruas há muitos anos e que há algum tempo convive com os amigos. “Estamos sempre juntos”, disse. Tanto a mulher quanto os outros moradores do coreto já trabalharam formalmente, mas o vício do álcool e os problemas com os familiares fizeram com que fossem para as ruas. “Hoje eu não trabalho mais, vivo por aí vendendo doces ou pedindo dinheiro. Assim vou levando a vida”, comentou.
A venda de balas nos sinais de trânsito ou nas ruas é a principal fonte de renda do grupo. Segundo eles, quando está chovendo não é possível trabalhar. “Dá para tirar um dinheiro, mas hoje (ontem), com este tempo, não tem como, por isso estamos por aqui, tentando nos aquecer”, relatou o mais novo do grupo.
Dos quatro moradores, um não era de Petrópolis. Ele não quis revelar em qual cidade havia nascido, mas reclamou do Núcleo de Integração Social (NIS), popularmente chamado de Abrigão. Segundo ele, o local não aceita pessoas de outros municípios. “Não querem a gente lá. Quem bebe e não é daqui não tem vez”, comentou. A mulher também fez queixas em relação ao abrigo e ressaltou não gostar do esquema imposto no local. “Não gosto de lá. Quem gosta de beber não é bem tratado”, disse.
O NIS localizado no Alto da Serra existe há 22 anos e, de acordo com dados da Secretaria de Assistência Social (Setrac), até o fim do ano passado, 55 pessoas residiam no local. Para “morar” no Abrigão é preciso seguir algumas regras. Entre elas está o cumprimento do horário de chegada (os portões fecham às 22 horas) e a proibição de consumo de bebidas alcoólicas e drogas. De acordo com o Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria de Trabalho, Assistência Social e Cidadania (Setrac), comandado por Carlos Jorge Guimarães, todos os moradores de rua existentes em Petrópolis são cadastrados. A abordagem dos agentes desse departamento acontece sistematicamente. “A abordagem é diária e realizamos as ações com quatro pessoas, das 20h até a meia-noite, nos locais determinados ou ainda quando acionados”, descreveu Carlos Guimarães.
Carlos lembra ainda que os moradores de rua não são levados à força para o Núcleo de Integração Social (NIS), são acolhidos no local somente aqueles que desejam ser atendidos pelo poder público. O Abrigão conta com dois assistentes sociais, um psicólogo, um cuidador social, oito educadores e dois cozinheiros. São servidas quatro refeições diárias e atividades são oferecidas nas oficinas socioeducativas. Na unidade são atendidas 55 moradores de rua atualmente e existem vagas para comportar até 70 pessoas.
“É importante destacar que a cidade recebe uma demanda muito grande de pessoas de fora do município. Lá eles não recebem o mesmo tratamento que aqui, sem contar que já existem aqueles vivendo de uma nova profissão que é a de pedinte. Fazem até horário de chegada e saída, através dos ônibus intermunicipais. A maioria vem de Nova Iguaçu, Piabetá e Duque de Caxias”, ressaltou Carlos, acompanhado do titular da Setrac, Luís Eduardo Peixoto. Ainda em relação ao abrigo, a secretaria esclarece que ao chegar ao NIS os moradores são levados a informar as suas referências familiares. Os dados são verificados e alguns contatos são feitos para a tomada de soluções. “As pessoas continuam no NIS até que resolvemos a questão familiar. E mesmo quando saem sem referências continuamos acompanhando”, finalizou Carlos. O telefone do NIS para denúncias ou sugestões é 2246-8742.

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